quinta-feira, 29 de julho de 2010



O violão e a música cantada baixinho fizeram doer o coração do pobre moço. Ali no bar, na mesa de canto mal iluminada, ninguém saberia descrever o que passava na cabeça dos dois.
Nenhuma palavra e muito sentimento, muita vontade.
Música. Ela servia pra preencher os ouvidos, colocar os corações no mesmo ritmo. A cerveja deveria tê-los deixado mais soltos, mas o que houve foi que estavam aflitos... E cheios de dúvidas. Ele queria carregá-la dali e possuí-la com todo o seu amor. Ela queria simplesmente fugir.
Olhares manhosos e corpos quentes. Seria tão mais fácil se naquele momento começassem a se odiar, se ele a desapontasse a ponto dela querer esquecê-lo ou se ele se apaixonasse pela garçonete!
Não adiantava, aquele era o momento em que duas solidões se encontravam, em que o vazio de um preenchia o do outro. Em cada abraço desacostumado, buscavam a própria alma como a última chance de liberdade.

- Quem são eles?, perguntavam.
- Devem estar se despedindo.

Mas os dois lá no canto nasciam - enquanto não despertassem.

sábado, 10 de julho de 2010

I don't wanna stay


Tranco a porta. Penso no que acabei de fazer.
Agora é tarde, este é o limite. A vida até este segundo ou a morte que nascerá no próximo não podem ser evitadas.
Escuto Beatles como se quisesse lembrar, mas de quê? Escuto para nutrir na alma um sentimento mais terno em relação ao viver, para fazer brotar a esperança de que algo pode ser melhor, de que ainda haverá um campo de morangos no final de algum dia.
Talvez se eu tivesse acreditado mais...
Escuto Nirvana no mais alto volume como se quisesse ser esquecida. Porta e janela fechadas tornam o agudo mais agudo e o grave quase insuportável, semelhante às pulsações. Meu grito não pode ser ouvido.

Tanta revolta assim não adianta, pode esquecer. As cortinas estão a se fechar, a luz está acabando, é o último pedaço de torta, seu cachorrinho está doente porque comeu seu ursinho de pelúcia preferido, aquele garoto realmente não te amava, você estava certa o tempo todo, o que escondia no armário acabou antes que descobrissem, fiz a maior besteira que podia. Black.

Será que os vizinhos escutaram? Bem, eles são idosos quase surdos que têm uma enfermeira malvada que deve estar bebendo cerveja na varanda. Não há com o que se preocupar.

Este será o último passo. Claro! Não podia terminar diferente. Antes cuidar dos outros para então reparar minhas feridas. Vou aumentar o volume e a mesma música tocará até que alguém arrombe a porta. Hoje não pertubarão minha paz.

Sem dor, sem choro. Sem arrependimento, sem lembranças. Sem futuro.
Este é nosso último beijo, você percebeu?
Yellow Ledbetter.

- Mas que clichê!