domingo, 30 de maio de 2010

"Monotonia"

É segundo por segundo
Que vai o tempo medindo
Todas as coisas do mundo
Num só tic-tac, em suma,

Há tanta monotonia
Que até a felicidade,
Como goteira num balde,
Cansa, aborrece, enfastia…

E a própria dor – quem diria?-
A própria dor acostuma.
E vão se revezando, assim,
Dia e noite, sol e bruma…

E isto afinal não cansa?
Já não há gosto e desgosto
Quando é prevista a mudança.
Ai que vida!

Ainda bem que tudo acaba…
Ai que vida tão comprida…
Se não houvesse a morte, Maria,
Eu me matava!


Mário Quintana

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Problemática do pessimismo


Na vida nada há que não envolva sofrimento.
Desde o amor até a morte,
De um extremo a outro,
Sofrer. Solidão. Sofreguidão.

A felicidade dos fortes
(ou a embriaguês dos fracos)
Não existe.
A vida nos obriga a viver.
E viver é desilusão, é sonolência às seis da manhã,
É engolir o choro e esperar a lua aparecer.

Viver é lutar contra aviões bélicos em pleno deserto,
Às vezes com o coração-escudo de aço, às vezes nu,
E correr, correr, correr... Sabemos que não venceremos.
A vida nos obriga a evitar o que mais desejamos:

O esquecimento eterno.

O que queremos não está nos livros,
Não está no tecido,
Não está no granito nem no espírito.
O que queremos está no abismo!

Não ouça ninguém...
Você quer o fim e o começo
Ar, terra, água e fogo.
O que está entre, está quase,
Não vale a pena.
O que queremos está no abismo.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Vento quente, sangue frio (e vice-versa)


Acontece que a princesa estava cansada de se sentir vazia.
Seu coração, como uma explosão de vento frio,
abriu-se para o mar dos sentimentos...
E afundou.
Nunca aprendera a nadar, a não ser em sua banheira, trancada na suíte.
O coração da princesa vinha cansado do vazio, a bater lentamente, endurecido.

Depois da explosão, os destroços.
A princesa não soube como fazer.
O coração pulsava, até sangrava, e ela não entendia.

Beberam da água do mar dois beija-flores com mel no bico.
Um era do norte, o outro vinha do sul.
Ambos foram embora procurar nova estação.

Na água nem pétalas ficaram.
A princesa acabou com dois vazios:
O que vinha de dentro e o deixado pelos beija-flores.
O coração engolia a água do mar, tentava se safar,
Mas era tarde para aprender - ou se arrepender...
Ele queria um inverno para achar uma superfície.


Na história, a princesa começa vazia, o coração trancado.
A prncesa se perde, culpa do coração que não soube nadar.
Não sobrou ninguém depois da explosão - nem flores.

A princesa tornou-se dois vazios, com meio coração, cansada do mar e fechada em sua suíte.

As ondas podiam ter levado à praia, à ilha ou ao céu...
Porém a princesa nunca acreditou nas ondas brancas do mar
E acabou enterrada em sua própria banheira.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

13.05.2010



She's falling appart...

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Encar(n)e


MEDO?

Tenho medo é do viver.


Para viver, mata-se aos poucos a coragem
Que a gente acredita, cinicamente,
Ser o configurar da maturidade.

A gente vive de trás pra frente:
Destrói a alma com o passar do tempo - com a fome do tempo.
Nesce corajoso, vive covarde
E morre com o perdão nos lábios.

sábado, 1 de maio de 2010


Lira da estrela

Da vida me despeço agora.
(Não da vida, mas do viver)
Despeço-me do quase viver,
Do quase agir, da farça de sentir.

Como uma estrela, distante anos-luz,
Sou.
Da Terra, tem o brilho mais bonito e original,
De perto, tudo poeira, tudo átomos fora da dança.

Como o brilho da estrela é minha alma.
Da Terra, lá está ele intocável
De perto, desapareceu.

A estrela morre enquanto o brilho viaja.
O corpo caminha enquanto a alma chora.

O brilho acaba,
Fica só a poeira.
A vontade acaba,
Fica só a incerteza.

Dispersos como matéria cósmica,
Meus seres não se encontram e,
Enquanto viajam,
Perdem o brilho,
Viram estrelas mortas,
Que distantes iludem
Com o brilho nelas suposto.